sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Contraste dos democratas


Frequentemente exprimo opiniões um tanto quanto anti-democráticas. Em recente ocasião discutia sobre o sufrágio universal e a tristeza que isso nos legou em todos os sentidos – afinal, as pessoas, em geral, não têm a mínima capacidade de discernir. O sujeito disse que todos devem poder votar, até porque todos pagam impostos. Rebati dizendo que você pode interferir na política indiretamente também e que o voto não é a única forma de fazer tal coisa. A outra pessoa começou com um discurso do quão autoritário eu parecia, e do quão eu podia estar fomentando um totalitarismo em breve, ao mesmo tempo em que dizia que eu era presunçoso quando julgava a "incapacidade" dos demais. Seguiu dizendo que o meu ponto de vista era muito ultrapassado e que eu deveria ser menos intolerante. Fiquei escutando tudo com muita atenção e até lustrando certos adjetivos pejorativos que lançava sobre mim. Por fim, respondi que mesmo eu sendo para ele uma pessoa intolerante, peremptória, equivocada etc., nesse nosso sistema, o meu "poder político" valia o mesmo que o dele. Assim se calou.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Apeirokalia - Olavo de Carvalho

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"O impedimento a que me refiro não é material ou quantificável. O IBGE não o inclui em seus cálculos e o Ministério da Educação o ignora por completo. No entanto ele existe, tem nome e é conhecido há mais de dois milênios. A mente treinada reconhece sua presença de imediato, numa percepção intuitiva tão simples quanto a da diferença entre o dia e a noite.

Os gregos chamavam-no apeirokalia. Quer dizer simplesmente "falta de experiência das coisas mais belas". Sob esse termo, entendia-se que o indivíduo que fosse privado, durante as etapas decisivas de sua formação, de certas experiências interiores que despertassem nele a ânsia do belo, do bem e do verdadeiro, jamais poderia compreender as conversações dos sábios, por mais que se adestrasse nas ciências, nas letras e na retórica. Platão diria que esse homem é o prisioneiro da caverna. Aristóteles, em linguagem mais técnica, dizia que os ritos não têm por finalidade transmitir aos homens um ensinamento definido, mas deixar em suas almas uma profunda impressão. Quem conhece a importância decisiva que Aristóteles atribui às impressões imaginativas, entende a gravidade extrema do que ele quer dizer: essas impressões profundas exercem na alma um impacto iluminante e estruturador. Na ausência delas, a inteligência fica patinando em falso sobre a multidão dos dados sensíveis, sem captar neles o nexo simbólico que, fazendo a ponte entre as abstrações e a realidade, não deixa que nossos raciocínios se dispersem numa combinatória alucinante de silogismos vazios, expressões pedantes da impotência de conhecer.

Mas é claro que as experiências interiores a que Aristóteles se refere não são fornecidas apenas pelos "ritos", no sentido técnico e estrito do termo. O teatro e a poesia também podem abrir as almas a um influxo do alto. À música — a certas músicas — não se pode negar o poder de gerar efeito semelhante. A simples contemplação da natureza, um acaso providencial, ou mesmo, nas almas sensíveis, certos estados de arrebatamento amoroso, quando associados a um forte apelo moral (lembrem-se de Raskolnikov diante de Sônia, em Crime e Castigo), podem colocar a alma numa espécie de êxtase que a liberte da caverna e da apeirokalia.

Porém, com mais probabilidade, as experiências mais intensas que um homem tenha tido ao longo de sua vida serão de índole a desviá-lo do tipo de coisa que Aristóteles tem em vista. Pois o que caracteriza a impressão vivificante que o filósofo menciona é justamente a impossibilidade de separar, no seu conteúdo, a verdade, o bem e a beleza. De Platão a Leibniz, não houve um só filósofo digno do nome que não proclamasse da maneira mais enfática a unidade desses três aspectos do Ser. E aí começa o problema: muitos homens não tiveram jamais alguma experiência na qual o belo, o bem e o verdadeiro não aparecessem separados por abismos intransponíveis. Esses homens são vítimas da apeirokalia — e entre eles contam-se alguns dos mais notórios intelectuais que hoje fazem a cabeça do mundo.''
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Texto na íntegra: http://www.olavodecarvalho.org/livros/apeirokalia.htm 

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sobre o inferno e a condenação do homem



"Por definição, o Inferno é um "estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados" (CIC 1033). Ora, a palavra auto-exclusão não deixa margem para qualquer dúvida: não é Deus quem condena o homem, mas o próprio homem. Mas, como isso ocorre? Para se compreender como o próprio homem pode renegar a comunhão com Deus é preciso entender que ele é totalmente, tragicamente livre. Tão livre que pode, no instante final, virar as costas para Deus."

Esse vídeo retira muitas dúvidas e confusões que fazem acerca do tema.