domingo, 16 de dezembro de 2018

Bhagavad Gita

Breves lições*. 

O homem deve agir conforme a necessidade da circunstância. Deve agir de modo indiferente aos frutos; agir com total desapego à conseqüência e às benesses de seu esforço. O homem que age pensando na boa colheita e no que desfrutará, corrompe-se, porque toda a sua ação perde a substância e assim ele tende a cair em vícios e perder-se hoje porque pensa no amanhã.

Nada mais empurra o homem à corrupção e à maldade do que o desejo e a ira. A empreitada humana, executada por uma idéia de que ela irá retornar como uma boa colheita é egoísmo e fraqueza. É como se dissipássemos a energia do “fazer agora” por ficarmos regozijando o que pode estar por vir depois.
O desejo ofusca a boa intenção e nos confunde no presente, no “agora da ação”. Devemos nos ater àquilo que deve ser feito, porque as benesses da justiça não são só uma reação à ação de hoje, mas também uma ressonância de nossa ação, só que proveniente de uma outra extensão de nosso ser e/ou uma ação de outro ser. O mundo é ação.

Fraquejar diante de adversidades e dilemas por temer executar uma determinada tarefa não te salvará do fracasso, afinal a não-execução de uma determinada coisa é, ao mesmo tempo, a execução de outra. A hesitação sempre vem do medo pelo depois e é aqui que temos de retroagir ao fato de simplesmente fazer e ponto final. Fazer o que tem de ser feito; combater o nosso medo e também a alegria; ter uma temperança extrema, um equilíbrio mórbido.

Também se deve levar em consideração o conceito do Yajna (sacrifício) no qual explica que todo ganho desse e nesse mundo deve ser uma compensação por algo, por um esforço, mesmo que de maneira indiferente – afinal o desapego numa ação consiste num trabalho mental bastante elevado. Aqueles que nada sacrificam mas a tudo usufruem são fracos de espírito, não se elevam. É como se apropriarem de algo indigno a eles...

Há o corpo, mas também os sentidos. Superior a eles há a razão, e a ela há o Atman (alma), centelha do Deus. Dessa maneira, controlando o Atman, ordenamos bem a razão, que ordena os sentidos e que, por sua vez, ordena o corpo: o meio pelo qual se faz o que se deve fazer.

Deus não há forma e tampouco é algo palpável, mas se utiliza de algo concreto para ordenar o mundo: como o sol, para fazer o dia e a lua compondo a noite. Dessa maneira, percebemos a regularidade das coisas. Para entrarmos em harmonia, então, devemos também ser regulares conosco ao máximo. Assim trabalhos o nosso Ser e ele é a essência de todo o resto.

A verdade e os valores sempre prevalecem pois são intrínsecos ao espírito. Seu antônimo, a bestialidade, a desonra e o mal, não, pois não são coisas independentes e não podem existir por si mesmas. Aquele que distingue o bem do mal, ao pé da letra, é o homem sem interesse, sem a vontade de espiar o futuro – o mal é simplesmente a ausência.

O autocontrole é o meio pelo qual se consegue Ser.

Não há nada sem sacrifício; não pode haver nada sem sacrifício. Ele legitima o sucesso, o sabor. É a compensação pelo sorriso e pelo esforço; por todas as forças intelectuais, físicas e espirituais suas que travaram entre si conflitos e ascenderam ao mesmo tempo. O equilíbrio, portanto, faz-se mais do que necessário. É também importante o conhecimento, o Jnana, que é aquela percepção além do intelecto. Um saber que parte do espírito e não do mero raciocínio e da mera lógica humana.

Todos os esforços desembocam em mesmo lugar; todas as ações findam em um mesmo ponto. A questão não é aonde chegar, mas sim como chegar. O homem cria esse caminho à medida que se esforça para alcançar o que se almeja, essa espécie de perfeição, essa espécie de completude. O esforço forja o bom caminho. A negligência é uma desonra para com seu espírito, fragmento de um outro maior, soberano e essência de todos. O homem deve se empenhar em tudo o que se propõe... sempre.

*Escritura antiga hindu. Segundo alguns, a tradição oral do mesma chega a quase mil anos antes de Cristo.