A modernidade vem com a promessa de nos libertar das algemas
de séculos. Algemas essas provenientes de um passado longínquo, antiquado,
opressor, destrutivo e decadente. Hoje se clama a liberdade e a total
obediência a si, aos seus instintos, sem noção do que se de fato está ficando
livre e sob quais valores hão de triunfar os instintos e a vontade do homem.
Parece-me que a modernidade está ociosa e paranóica. A liberdade virou um
fetiche, e o querer uma justificativa. Está-se livre para tudo, dizem eles, sem
atentar para o fato de que estão acorrentados a uma outra perspectiva somente;
está-se apto para tudo, dizem eles também, sem se darem conta de que o instinto
não possui significado algum, senão o de uma reação cuja causa nós
desconhecemos. Mas a desmascaro aqui, essa modernidade doente: até que ponto é
razoável pensar que sendo os impulsos humanos mais básicos – e nessa lógica
absurda os mais valorosos – devem ser seguidos ao pé da letra, afinal não
teriam sido esses mesmos impulsos que nos escravizara? O que quero atentar aqui
é para o fato de que a causa e o efeito não podem ser a mesma coisa, como bem
nos ensina a lógica. Se o homem de ontem era isso ou aquilo, não o foi em outra
circunstância que não na qual em que o seu também instinto existia, bem como a
todos os anseios naturais. É absurda a tentativa de glorificar o homem e o seu
lado mais animal para correr das más coisas, se estas foram também fruto dos
instintos e da bestialidade nossa de outros tempos. A modernidade não nos pode
prometer nada sem também acorrentar-nos. Diante da infinidade do universo e a
imensa complexidade de um indivíduo, todas as alternativas à moral prática e ao
bom senso universal e atemporal, conduzir-nos-á a uma escravidão sem
precedentes. Seremos servos da vontade de todos, submetidos à liberdade eterna
que só pode ser conhecida quando a nada se escolhe e a nada se faz.