A verdadeira
apreciação musical foi aniquilada com a chegada dos etnomusicólogos. Quando a
importância de uma obra passou a ser depositada não no seu conjunto de criação
- sendo este, já desde Aristóteles, o busílis da música -, mas nos seus
contextos específicos, criou-se, então, a mescla entre o som e a origem do ser
que o emitiu. Ora, a cor, a nacionalidade, o físico e o contexto de um artista
só são importantes para abranger uma visão maior da obra. De fato, Beethoven
não pode ser compreendido sem se compreender, antes, a Alemanha idealista de
Hegel; Chopin sem a Polônia não faz o menor sentido; E Vivaldi sem a Itália e a
tradição católica é oco. Mas qual seria a verdadeira influência da minha cor
quando toco José Maurício Nunes Garcia? E qual é a real relação entre a minha
nacionalidade latino-americana com as minhas interpretações de Astor Piazolla?
A ligação que os musicólogos modernos estabelecem entre o contexto do músico e
a sua obra é, no mínimo, uma destruição da teoria musical. E é por isso que
Adorno e cia., neste impulso maldito de desmerecer a obra clássica, chegam ao
máximo da distorção hermenêutica da música: eu toco melhor Heitor Villa-Lobos
por ser brasileiro. É tanto charlatanismo que dá dó (menor sustenido com
sétima, pois é atonal e ''verdadeiro'', segundo o frankfurtiano).