quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Batuque aborígene miserável



A verdadeira apreciação musical foi aniquilada com a chegada dos etnomusicólogos. Quando a importância de uma obra passou a ser depositada não no seu conjunto de criação - sendo este, já desde Aristóteles, o busílis da música -, mas nos seus contextos específicos, criou-se, então, a mescla entre o som e a origem do ser que o emitiu. Ora, a cor, a nacionalidade, o físico e o contexto de um artista só são importantes para abranger uma visão maior da obra. De fato, Beethoven não pode ser compreendido sem se compreender, antes, a Alemanha idealista de Hegel; Chopin sem a Polônia não faz o menor sentido; E Vivaldi sem a Itália e a tradição católica é oco. Mas qual seria a verdadeira influência da minha cor quando toco José Maurício Nunes Garcia? E qual é a real relação entre a minha nacionalidade latino-americana com as minhas interpretações de Astor Piazolla? A ligação que os musicólogos modernos estabelecem entre o contexto do músico e a sua obra é, no mínimo, uma destruição da teoria musical. E é por isso que Adorno e cia., neste impulso maldito de desmerecer a obra clássica, chegam ao máximo da distorção hermenêutica da música: eu toco melhor Heitor Villa-Lobos por ser brasileiro. É tanto charlatanismo que dá dó (menor sustenido com sétima, pois é atonal e ''verdadeiro'', segundo o frankfurtiano).