Três tipos de estudantes dominam as universidades e escolas atualmente:
o sério, o perdido e o desinteressado. Quando falo em estudante
sério, refiro-me àquele que é ávido por conhecimento, não importa de que tipo
e, percebendo que algumas matérias são indispensáveis e obrigatórias, o próprio
condiciona seu interesse e seu espírito para compreendê-las, fazendo do
professor não um mestre, mas um companheiro na busca pela verdade. Existem,
também, os alunos perdidos, que nada sabem, mas têm uma alma honesta e uma busca
verdadeira pelo saber, e que, para tal objetivo, precisam de um líder, um guia,
um sábio que os ensine (ou seja, o professor). E finalmente, para coroar a desgraça
educacional de hoje em dia com espinhos de ouro, existem os desinteressados,
filhinhos de papai, totalmente alheios à unidade do real, que mais estão lá, dentro das decantes universidades e escolas,
para adquirirem um meio mesquinho de obter dinheiro, ou para agradar o grupo
familiar. O tipo dominante de estudante, hoje em dia, infelizmente, pertence à
terceira categoria.
Não é preciso ser cientista político para concluir que, com o advento da
pedagogia social, a primeira classe de estudantes tem sido extinta. O aluno que
cultiva o saber, hodiernamente, está nas adjacências mais obscuras das escolas
e universidades, tendo seus objetivos desencorajados ou deturpados pelo
establishment educativo, fazendo com que a educação vire uma espécie de troca
mecânica de métodos, uma forma de repetição orangotânica, que, disfarçada de
''rigor acadêmico'', mostra-se, na verdade, como uma destruidora de qualquer
atividade útil.
Junto a isso, a quantidade de alunos vagabundos só aumenta a cada dia.
Com a perspectiva doentia do ''no child left behind'' (crianças mesmo, pois 90%
dos estudantes universitários beiram a infantilidade maternal), qualquer
governo atual pensa que é sua obrigação colocar todas as pessoas numa
universidade. E o resultado disso não poderia ser outro: pessoas incapacitadas
para cargos de extrema necessidade social. Economistas pobres, médicos que não
se cuidam, professores que não sabem aprender (nem ensinar) e escritores que
não sabem sua língua natal são apenas algumas das aberrações que ocupam as
altas esferas de trabalho.
Sentados no canto fundo da sala, por medo ou timidez, estão
(provavelmente escondidos ou calados), por fim, os alunos de cabeças frescas,
honestos e abertos a todo tipo de doutrinação. Estes são os mais injustiçados
do processo inteiro. Vítimas de uma geração já moldada nos preceitos
piagetianos-freirianos, tais pobres almas já recebem uma tonelada de
informações esquerdistas unilaterais, prontas para serem repetidas a qualquer
momento, apenas para agradar o digníssimo magistério. Não mais o professor deve
ensinar os alunos a cultivarem a sabedoria, a amarem as matérias; deve, na
verdade, espalhar o assunto de forma aleatória, deixando mais dúvidas que
respostas, podando todo tipo de pensamento contrário à sua autoridade de
''mestre'', negando peremptoriamente qualquer resposta aos mais simples
questionamentos.
Só se pode deduzir, em meio de tais condições educativas, que os
professores, alunos de outrora, não estão, de maneira alguma, exercendo o
verdadeiro ensino, tampouco estão cientes das sua próprias falhas como
educadores. O verdadeiro mestre não demonstra sua matéria apenas; ensina,
também, a cultivá-la, a amá-la; ensina o aluno a associá-la com a realidade, forçando-o
a gostar de cada pormenor que determinado tópico demande, cumprindo, pois, o
real objetivo da aulética: colocar no estudante o verdadeiro desejo pelo
conhecimento.
''Colocar? Forçar? Incrustar gostos em outras pessoas? Mas que coisa
mais conservadora, antiquada e reacionária'', alguns dirão, com sede de enfiar
seu ativismo político na área pedagógica. Não! Nada há de ''reacionário'' em
cultivar a sabedoria em mentes perdidas. Há, na verdade, uma obrigação, um
dever por parte do professor, que consiste exatamente na conversão do
conhecimento em algo que eleve o espírito, que seja útil à alma humana, fazendo
com que tal assunto seja de real importância para o educando, e não uma simples
cadeira universitária ou escolar obrigatória. E para isso não há técnica. Há de
se criar, na verdade, uma organização de educadores menos preocupados com ''o
mundo melhor'', e mais focada em deixar pessoas melhores para o mesmo mundo de
sempre. Quem sabe assim, quiçá, no futuro, o número de estudantes desinteressados
seja, pelo menos, menor que a quantidade já escassa de alunos sérios.