sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Pensamento de caixa


É comum entre os intelectuais modernos o hábito de procurar os erros e acertos quando lêem Aristóteles e Platão, podando os cons e destacando os prós. Desde que Marx lançou essa moda, interpretando Hegel de cabeça para baixo, virou costume adequar os escritos antigos à ideologia particular do cidadão. Mas isto não é filosofia. Faz parte da tradição filosófica transportar as palavras antigas, atualizando-as, tirando delas a poeira deixada pelo tempo. Foi isso que Santo Tomás de Aquino e Avicena fizeram quando colocaram suas mãos nos textos aristotélicos, incorporando-os em seus respectivos contextos, sem alterar, no entanto, os dizeres clássicos de maneira perversa ou adaptativa. Porém, a deturpação ideológica é tão maciça, tão esmagadora e dominante, que não há mais quem não altere Aristóteles para todos os fins (políticos, econômicos, partidários, culturais, e até sexuais). Essa tentativa pacóvia de mudar o passado resulta naquilo que Mortimer Adler dizia (e temia): ''estão lendo tão errado que é o mesmo que não lerem''. É preciso um filósofo para transpor outro filósofo, e não é qualquer pessoa que faz isso.