quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Não temer

Hoje me dediquei a um pequeno exercício: refleti sobre onde deixamos o nosso cadáver. Pois não, cadáver! Tem de se ser muito ingênuo para acreditar que ainda estamos vivos... Morremos junto dos últimos grandes homens que se permitiam ousar a sonhar, a desafiar o comum, a triunfar sobre o ordinário – contínua e incansavelmente. Toda a História do mundo repousa um pouco em Aristóteles e também em Napoleão. Morríamos, é verdade, desde sempre, mas ainda conversávamos o infinito em nós... Hoje já não mais. A chama do gênio, regada nas virtudes, tomada pelo inabarcável desejo de ir adiante, obedecendo nossa gênese natural do Eterno, foi-se. E como se não bastasse ter ido, segue numa morte que também morre em si mesma, pois que o antônimo do Infinito não é o finito, mas o vulgar, o raso, o comum – e não, isto também não tem fim... Que não se entenda, por favor, que se pretende evocar as aventuras do quotidiano para alegar vida – que eu não seja tomado por um tolo juvenil, por Deus! A vida é feita na propulsão espiritual (sem fim) que ascende, incansavelmente, a todo o tempo, desejando descansar –  não sabe ela! – em si mesma. O tempo do Querer se esgotou. Hoje só se faz, segue-se, copia-se, domestica-se, consente-se, cede-se... Mas que erro o meu... Como havíamos de deixar o nosso cadáver?! O cadáver é a única coisa que nos resta! Deixamos foi o nosso espírito! E seguimos deixando-o, em todo o instante em que se teme morrer.