domingo, 6 de outubro de 2013

Ninguém quer saber

Li alguns aforismos do escritor colombiano Nícolas Gomez Dávila ontem. Foi uma maravilha. Seus ensinamentos são tão profundos, tão maciçamente atuais e urgentes, que, no mínimo, dever-se-ia publicar a obra homem em todas as línguas do mundo, até em Urdo.

Mas não posso citá-lo para ninguém. Ai de mim se fizer tal ato ferino. Ninguém o conhece, obviamente. E citá-lo, na visão do brasileiro comum, é pedantismo. Por quê? É a lógica brasileira, ora: não conheço, logo não existe. E ai de quem revelar que esta última frase foi uma paráfrase de Descartes. Chegamos ao fundo do poço, ao pior dos níveis, àquele lugar onde não há mais volta: conhecer é ruim, ser ignorante é bom.

Quando cito algum autor antigo, ou um sábio, duas reações aparecem: ou uma incompreensão ímpar, ou um completo desdém. Na primeira situação, seria até tolerável; mas, infelizmente, a incompreensão, no Brasil, é alimentada pela igual inconsciência das outras pessoas, prontas para cortar qualquer idéia, ponderação, questionamento ou dúvida que você tenha. Este país gerou o incrível paradoxo da dúvida que não move o ser para a resposta. A dúvida é um fim por si só, numa mistura diabólica entre o ceticismo cartesiano e a rigidez kantiana.

A segunda reação, bem mais comum que a primeira, é o total e maciço repúdio, desprezo e ódio aos sábios, sejam antigos ou novos. Ora justificam que os tempos são outros, e isso de nada vale no contexto atual (surpreendentemente, Marx e cia. continuam atualíssimos), ora usam seu próprio umbigo como fonte de referência, bradando aberrações como ''não foi assim comigo, então não corresponde à realidade''. Quando não fazem isso, cometem a pacóvia e insultante atitude de, sim!, clamar que você não sabe de nada, mesmo que eles também não saibam.

Isso revolta qualquer espírito honesto e que queira passar o que se leu. Mortimer Adler dizia que o conhecimento, quando adquirido, espalha-se naturalmente para o mundo, porque já põe o conhecedor na posição de transportador. O educando vira educador, e assim funcionavam as cousas por quase 2500 de humanidade. Mas como propagar conhecimento, quando você não é autorizado a fazer isso? Com essa situação, tudo aponta, pois, para um exílio. Sair daqui é a única solução.

E quanto ao Nícolas Gomez Dávila? Bem, ele continuará desconhecido porque ninguém o quer conhecer. Não é pedante saber das cousas, ora bolas?