segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Pequeno ensaio sobre a verdade

O problema da verdade aflige bastante o homem. É incontestável a existência de uma verdade, ainda que muitos a vejam de maneira meramente factual, como a morte, por exemplo. No entanto, o descrédito por uma verdade mais completa, acompanhada pelo fetiche relativizante nos traz um absurdo cíclico. O homem perdura porque crê em algo, porque persegue essa verdade unânime e única que está fora dele. E é justamente por ela se encontrar fora dele que há tantas verdades para o homem. Não seria exagero dizer que há a Verdade e a verdade, centelha dessa primeira, parte de seu conjunto infinito. E a mentira, onde se encontra? A mentira reside na negação de uma verdade meta-humana. A mentira é superficial, na realidade, pois não existe em si mesma, dado que ela necessita de uma verdade para ser entendida e compreendida como mentira. A mentira é um delírio, é só uma verdade mais ineficaz atrás da Verdade. Por mais que muitos tentem exorcizar a idéia de uma busca pela verdade com relativismos tolos e pretensiosos, não se pode desdizer que esse ser não a busca – e nem mesmo ele pode dizer isso, senão da boca para fora. Até mesmo o relativismo absurdo se sustenta numa verdade para carimbar as diferenças de perspectiva. Destarte, há uma verdade muito além do homem, infinita em sua concepção e inexplicável na linguagem técnica humana.
A conclusão da existência da Verdade nos torna à felicidade e, por conseguinte, a uma compreensão mais perfeita de Deus. O homem tende, ou deveria tender sempre, a se aperfeiçoar, tentando atingir ao máximo possível o que se entende como Deus. A verdade é um caminho pelo qual o homem se esforça para Ser, em todos os sentidos. Ao se negar a Verdade, com a sua verdade, desboca-se num antro interpretativo fraco e tolo que se auto-destrói. A concepção de idéias de verdade, de verdades, não deve ser excludente: o homem não tem domínio para, ainda com a sua identidade humana, apreender a Grande Verdade. Entretanto, nem por isso deve negligenciar tal propósito de alcançar o infinito, visto que é inerente ao homem colocar pedras a sua frente, construindo um caminho, para seguir vivo. Quando se nega a existência da Verdade, busca-se, confortavelmente, negar a existência de um objetivo, de uma lição a qual todos devem se submeter. É mais confortável, portanto, negá-la, e é por isso que encontramos tantos relativismos e relativizadores por aí. E sim, a esses se deve censurar: não simplesmente por errarem, mas também por não buscarem estarem corretos, driblando assim sua substância natural.
Além disso tudo, é razoável dizer que há verdades mais verdadeiras, no que cerne ao homem. Diante do infinito que é a Grande Verdade, e que existe além do homem, todas elas se tornam insignificantes, mas, dentro de um ciclo humano, estar à frente, mais “próximo do alto”, é considerável. E quem são os que assim se encontram? Aqueles seres que assim se vêem através de sua temperança, coragem e sabedoria; de um equilíbrio proporcional e que ascende facilmente a todos os valores pregados por esse mundo decadente e imoral; aqueles que vêem a tradição não como uma imposição institucional mas sim como uma causa de sua própria índole; aqueles que desejam ir ao encontro de sua verdadeira essência.
O homem precisa retomar as rédeas de sua natureza, que vai além de um corpo, e trazer de volta os limites para assim mirar no incalculável. A construção de um mundo sem a idéia de uma Verdade a ser perseguida é como jogar toda a compensação pela vida no lixo e glorificar a humanidade por si e em si mesma, não instituindo sua característica mais importante, que é a de ser portadora de uma centelha da imensidão do tudo, do além.