Ser criado num lar católico, cristão, e depois se deparar
com a triste realidade do mundo não é fácil. Penso que a maioria dos incrédulos
de hoje o são por se sentirem injustiçados, enganados. Não só o mundo vem à tona
como um lugar mesquinho: os seus entes, que tanto antes admiravam, têm suas
falhas e vícios mais visíveis a nós quando chegamos a certa idade. Não é a
descrença súbita, proveniente do nada, que emerge, mas sim a sensação de ter
sido traído por tudo aquilo que era para si mais caro e imaculado no mundo. E
assim muitos ficam: secos, quietos, carrancudos e até mesmo revoltados. Não
raro percebo ira em manifestações de supostos céticos e/ou ateus. Na realidade, não era a religião que eles queriam culpar, mas sim o mundo, os homens. No
entanto, a “religião” se deixa ser culpada. Por quê? Porque ela é bela e além.
Porque ela tem em si um dos mais belos e necessários dons para o
desenvolvimento do homem como ser: o perdão, e só através dela se pode perdoar. Entretanto,
eis que cá estamos: um mundo cruel que se torna cada vez mais cruel com os
homens distante de Deus: incrédulos, vaidosos, materialistas até os ossos... Não
perdoam a traição da mais terna idade; não perdoam os seus, não perdoam a si e ficam
presos numa gosma que gruda, estanca e os adoece. Os seres de hoje não perdoam
aquilo que hoje lhes perdoa e não percebem o que lhes está na face; não crêem mais no pecado e no erro, só em seus desejos e vícios. Se não há pecado, então, não pode haver perdão... Os homens suicidam o seu espírito hoje em dia.